Previdência quase triplicou alocação em risco em três anos; mas e após coronavírus?

Previdência Quase Triplicou Alocação Em Risco Em Três Anos; Mas E Após Coronavírus Post Dra. Elaine Fernandes Blog Notícias E Artigos Contábeis - Escritório de advocacia no Centro de São Paulo

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Esse contingente deve cada vez mais se perguntar: como fazer a previdência render o suficiente para garantir tranquilidade na velhice? A que nível de risco posso me sujeitar na gestão desse recurso? Entrou na conta a expectativa de vida maior?

Se quer rentabilidade, tem que ter risco

A principal razão de os PGBLs e VGBLs terem passado a aplicar mais em ativos de renda variável foi a mesma que motivou uma maior tomada de risco nos investimentos em geral: a redução na taxa básica de juros, de 14,25% em 2016 para os atuais 3,75%.

Com isso, a poupança e outras modalidades de renda fixa passaram a render muito menos, explica Rodrigo Terni, sócio fundador da gestora Giant Steps. “Na previdência privada, vimos migração massiva para ativos de maior risco, uma readequação ao encontro da necessidade de retorno lá na frente”, ele comenta.

O ambiente econômico – inflação baixa, déficit fiscal em redução – também puxou mais apostas em multimercados ou ações, seja na migração de carteiras em fundos que já existiam ou na criação de produtos com perfil mais agressivo, diz Marcelo Mello, vice-presidente de Vida, Previdência e Investimentos da SulAmérica.

Ele identifica um “ciclo virtuoso” para além da queda da Selic: “O regulador ajudou, permitindo alocação em ETFs, ampliando os limites de exposição e criando a figura do proponente qualificado”.

Mello ressalta outro aspecto, mercadológico: a proliferação das plataformas digitais, diz, facilitou a contratação, atualizou produtos e engajou novos clientes mais propensos a correr riscos.

Jorge Ricca, diretor financeiro da Brasilprev, quantifica essa evolução: segundo ele, no fim de 2017, a alocação em renda variável pelos fundos abertos ficava em cerca de 10%. “Essa proporção foi para 13% em 2018 e para 20% em 2019. E o que víamos no início de 2020 eram números ainda melhores”, diz.

Na visão dele, os fundos abertos seguiram, a partir de 2017, uma tendência que já se identificava nas entidades fechadas.

Dados da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar) e da Susep (Superintendência de Seguros Privados) organizados pelo consultor José Raymundo de Faria Júnior, da Planejar, evidenciam isso. Ao fim de 2019, a parcela aplicada em bolsa pelos fundos de previdência abertos e fechados era de 19,3%, contra 18,5% em 2017. Mas quando se vê só os fundos abertos, a fatia cai para 2,1%, contra 37% nos fechados.

Júnior faz uma ressalva: embora a alocação agressiva tenha crescido, o nível pré-coronavírus ainda era similar ao de quase dez anos atrás, e baixo na comparação com outros países. “Em termos proporcionais, seria necessária uma compra na bolsa de R$ 87 bilhões [por parte dos fundos abertos] para igualar 2011”, explica.

Por outro lado, nem só de ações se faz o risco, e, em certos portfólios, a agressividade apareceu primeiro em um rearranjo na renda fixa. É o que explica Ricca, da Brasilprev, onde a proporção de renda variável cresceu para apenas 9,3%: “Os anos de 2018 e 2019 foram de ‘fechamento’ da curva de juros. Então quem migrou de pós-fixados para prefixados ou indexados à inflação teve retornos relevantes e não precisou ir para a bolsa”.

A compreensão de risco como um conceito mais amplo que “ativos negociados em bolsa” inspira outro diagnóstico, da consultoria de investimentos Mercer Brasil. Em levantamento para o Valor Investe, a empresa contabilizou não só ações, mas também a renda fixa atrelada a juros e ativos como câmbio, commodities, derivativos e opções. “São produtos que trazem risco, mas que não entram sob o guarda-chuva da ‘renda variável’”, explica Mauricio Martinelli, consultor sênior de investimentos da empresa.

Assim, a Mercer dividiu os investimentos feitos por fundos PGBLs e VGBLs em “mais agressivos” e “conservadores”, e identificou um aumento nos primeiros, de 13,6% em 2016 para 32,2% em 2019.

Previdência privada aberta cresce aposta em risco

2016 2017 2018 2019
Mais agressivos 13,6% 16,1% 23,0% 32,2%
Conservadores 86,4% 83,9% 77,0% 67,8%

“A diversificação na previdência aberta já foi tentada, mas nem sempre com bons resultados, porque há até pouco tempo, sempre que comparasse CDI e Ibovespa em dez anos, o CDI era melhor. Agora, o custo de oportunidade caiu e o apelo por diversificação faz mais sentido”, explica João Morais, líder da área de wealth (que engloba previdência e investimentos) da Mercer Brasil.

O executivo vê um momento virtuoso: “O juro baixo traz desafios, mas fomenta o empreendedorismo e o uso dos portfólios para financiar a economia real”.

Diversificação cresceu, mas ainda é para poucos

Entretanto, essa disposição a arriscar para ter mais rendimentos ainda é residual no universo dos fundos abertos de previdência. Levantamento da gestora Magnetis mostra que entre os dez fundos PGBLs ou VGBLs com melhor retorno em 2019, todos tinham por premissa investir em ações, debêntures e multimercados.

Fundos de previdência com maior retorno em 2019

Fundo Rendimento em 2019 Patrimônio líquido em 31/12/2019
Itaú Flexprev Pgl Blue Future FIC Multimercado Crédito Privado 78,62% R$ 8.211.071,60
Brasilprev Top Plus FI Ações 56,74% R$ 1.004.883.198,43
Truxt Previdência FI Ações 51,43% R$ 95.319.066,17
Itaú Flexprev Dunamis FI Ações 51,22% R$ 418.818.722,16
Icatu Seg Brasil Total FI Multimercado 49,18% R$ 34.698.987,40
Itaú Flexprev Dunamis FIC Ações 48,09% R$ 318.885.671,25
Bradesco Máster Small Cap FI Ações 47,32% R$ 123.994.389,78
Truxt Cshg Previdência FIC Ações 46,71% R$ 95.155.892,21
Itaú Flexprev S&P/B3 Low Volatilitytm FI Ações 46,27% R$ 81.335.524,73
Itaú Flexprev Dividendos Indexado FI Ações 45,70% R$ 893.871.323,07

Porém, o mesmo levantamento da Magnetis revela que todos os dez maiores fundos de previdência privada do país focam a renda fixa. Ou seja, a maior parte do dinheiro no setor ainda está em produtos conservadores que renderam bem menos.

Os dez maiores fundos de previdência e quanto renderam

Fundo Rendimento em 2019 Patrimônio líquido em 31/12/2019
Brasilprev Top Tpf FI Renda Fixa 6,11% R$ 95.289.983.586,59
Itaú Flexprev FI Renda Fixa 7,67% R$ 77.353.450.074,43
Bradesco Máster II Previdência FI Renda Fixa 7,55% R$ 73.773.226.554,79
Caixa Previnvest Gestão FI Renda Fixa Previdenciário 7,58% R$ 67.534.691.887,07
Brasilprev Top Dinâmico FI Renda Fixa 6,25% R$ 63.906.734.729,73
Brasilprev RT FIX VI FIC Renda Fixa 6,74% R$ 42.971.547.195,52
Brasilprev RT FIX II FIC Renda Fixa 6,47% R$ 41.654.944.402,01
Brasilprev RT FIX VII FIC Renda Fixa 7,22% R$ 38.690.312.313,26
Bradesco Máster III Previdência FI Renda Fixa 8,01% R$ 37.720.459.395,57
Itaú Flexprev Vértice Vision FIC Renda Fixa 8,33% R$ 33.322.061.343,47

Para Morais, da Mercer, esse cenário reflete um investidor médio que, após décadas de Selic estratosférica, ainda teme a volatilidade: “Previdência é longo prazo. Se investir para daqui a um mês, é grande a chance de dar errado, mas para 30 anos, o tempo tende a absorver a perda e trabalhar a seu favor”.

Não é só a ambição de fazer o dinheiro render mais, ele explica, mas uma preocupação em garantir o futuro. “Se ainda tem tempo de contribuição, é essencial mirar produtos com maior potencial de retorno para ter capital condizente com a necessidade quando parar de trabalhar, e lembrando que se vive cada vez mais.”

Covid-19: hora de acalmar os clientes

Embora a demanda por acalmar investidores em meio às quedas causadas pela pandemia seja global, ela pode ser maior no caso brasileiro dado o alto índice de ingressantes na bolsa, explica Júnior, da Planejar. “Estamos hoje com quase 2 milhões de CPFs na B3. Eram 600 mil em 2016. Em conta por alto, dois terços dos investidores na bolsa podem ser novatos que nunca tinham visto algo assim. Como vão reagir na previdência?”, ele questiona.

Por isso, a tarefa de gestores tem sido realçar trunfos para tornar o risco mais palatável na aposentadoria, como o uso de robôs e a combinação de metas cruzadas. Tem sido assim com Terni, da Giant Steps:

“Nosso produto conjuga estratégias distintas. Uma ganha em tempos racionais, que é a do fundo Sigma. E a outra lucra em momentos irracionais, que é a do Zarathustra. Ele está dando 4,5% neste ano. Já o Sigma está caindo 4%, o que faz sentido, pois não vivemos um momento racional”.

Mello, da SulAmérica, afirma que não houve retiradas significativas na empresa. “Os produtos foram impactados, mas estamos perto dos clientes, explicando que um resgate pode, aí sim, realizar uma perda.” Por outro lado, diz, as novas contratações devem desacelerar: “Quem estava para entrar tende a esperar mais”.

Sobre o cenário pós-pandemia, no médio prazo, conforme a curva de crescimento do coronavírus sofra inflexão, Mello antevê uma revisão de perfis: “A gente vai ver alguns clientes que entraram em produtos agressivos, no afã de compensar a queda dos juros, mas que terão percebido que não têm estômago para isso”.

No longo prazo, entre 15 e 18 meses, a visão do executivo é de retomada dos aportes em fundos agressivos. E, do ponto de vista da gestão, ele também acredita que uma alocação maior em risco é algo irreversível.

“Em um primeiro momento, vejo os gestores diminuindo risco e fazendo caixa, esperando para voltar ao jogo. Mas mesmo com crescimento do PIB menor ou negativo, tem muito prêmio por aí. Se por um lado o profissional está machucado pelas últimas semanas, por outro a oportunidade que se abre é grande”, diz.

Além de reforçar que é preciso evitar liquidações ou portabilidades “com o fígado”, Morais, da Mercer, lembra que quem perde agora ganhou muito nos últimos anos. “Não podemos esquecer que nos anos de 2018 e 2019 o Ibovespa subiu 51%. Em 36 meses, subiu 92%. Quem esteve em perfis conservadores deixou de capturar esse ganho. Agora, uma parte disso foi subtraída, mas é de se esperar que a equação risco-retorno volte à normalidade.”

Ricca, da Brasilprev, também antevê um congelamento e, depois, uma retomada: “Em crises anteriores, como a do ‘subprime’ dos EUA, em 2008, se injetava recursos para salvar instituições e se estancava. Agora, não é uma crise essencialmente financeira. No curto prazo, o debate do risco deve ficar em segundo plano”.

Mas o conceito pode voltar à mesa no segundo semestre, ele diz. “Acredito que a medicina vai responder e a vida vai voltar ao normal: trabalhar, consumir, almoçar fora, pegar transporte, viajar. A recuperação tende a ser rápida.”

Fonte: Valor Investe

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